sexta-feira, setembro 15, 2006

Vinhais acolhe Simpósio

Com o público vinhaense ainda alheado da iniciativa, cinco escultores perscrutam ao vivo, em espaços distintos, um conjunto de obras que hão-de figurar, a partir de Maio, em espaços públicos da vila.
Paulo Moura, um jovem escultor de Carrazeda de Ansiães, é um dos artistas a participar na primeira edição do Simpósio Internacional de Escultura que decorre entre os dias 4 e 26 de Setembro, em Vinhais.
A sua presença, numa iniciativa que conta com a prestação de mais quatro escultores nacionais e estrangeiros, surge a partir do convite do escultor Manuel Cruz, o coordenador deste projecto cultural, promovido pela autarquia vinhaense. Depois de ter participado o ano passado como assistente do escultor Hélder de Carvalho no simpósio de Macedo, Paulo Moura assume aqui, na primeira pessoa, o trabalho que produz.
Com mais de sete metros de altura, a peça escultórica do transmontano, e que há-de figurar numa das rotundas da vila, bebe a inspiração nos antigos vinhedos do concelho que terão dado origem à toponímia de Vinhais, antes de serem dizimados pela filoxera.
O projecto nasce de uma pesquisa sobre a história e as tradições do concelho e é sustentado pelo aço, matéria em que é produzido o elemento principal deste conjunto, e pelo xisto.
Ainda a ganhar os primeiros contornos, a escultura é, segundo o autor, “uma alegoria inspirada na morfologia da cepa da videira que se ergue retorcida em altura como numa procura do infinito, tendo na sua base um socalco sustentado por um muro desmoronado, sugerindo o desaparecimento da própria vinha”.Já com provas dadas no universo da escultura, numa criação que assenta na forte ligação com os materiais da região, o recém-licenciado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto não deixa de ver a sua prestação neste simpósio como “um grande desafio”.
Ao escultor de Carrazeda de Ansiães juntam-se outros nomes da escultura nacional e internacional, alguns com currículos invejáveis. Manuel Patinha, Paulo Neves, o espanhol Paco Pestana e Carlos Barreira, que encerrará em Vinhais um ciclo de “Pedras Bolideiras”, completam esta equipa de artistas que, muito em breve, deixará um conjunto de obras com assinatura.
O granito, o aço e a madeira são os materiais escolhidos para dar corpo às peças que a partir do mês de Maio de 2007, data prevista, ocuparão em definitivo alguns dos espaços públicos desta vila nordestina, numa zona a ser requalificada.
A coordenação dos trabalhos está a cargo do escultor Manuel Cruz, o responsável pelo primeiro “Simpósio de Escultura em Aço”, único no país, e que decorreu em 2005 em Macedo de Cavaleiros.
Pensado não apenas na produção de obras escultóricas, o simpósio pretende ser também um espaço de formação e de encontro entre os artistas e o público que habitualmente acompanha de perto cada uma das etapas dos diferentes trabalhos produzidos.
No entanto, o Simpósio de Vinhais, que até agora tem passado despercebido, não reúne as melhores condições de trabalho. Os escultores têm-se visto obrigados a trabalhar apenas durante a manhã ou ao fim da tarde, fugindo ao sol escaldante que vem invadindo as oficinas improvisadas pela autarquia.
Neste projecto colectivo ressalta ainda o facto de cada um dos artistas trabalhar em espaços distintos, como o pavilhão multiusos, as oficinas da câmara e nas oficinas da zona industrial, dificultando não apenas a camaradagem e a partilha de experiências entre os artistas participantes, que é própria deste tipo de iniciativas, mas também a presença de público.
F. Jorge da Costa